sábado, 20 de dezembro de 2014

A república Livro II: A justificativa da expulsão dos poetas


       Há três espécies de bens: aquele que gostaríamos de possuir por ele mesmo; aquele que gostaríamos de possuir por ele mesmo e por suas consequências; e os que gostaríamos de possuir somente pelas consequências. O primeiro bem seria a alegria e os prazeres inofensivos; a segunda espécie de bem seria a sensatez, a vista, a saúde; a terceira espécie de bem seria a ginástica, a medicina. Mas, afinal, entre esses bens, onde caberia a justiça?
        Antes de responder essa pergunta, para contrapor Sócrates que diz que a justiça é da primeira espécie – terá ainda que justificar –, seus interlocutores, ao contrário, dizem que a justiça tem sua origem na conveniência, pois se alguém comete sua falta não quer sofrer suas consequências e quem sofre essa falta quer vingar-se. Essa falta chama-se de injustiça. Dizem também que a justiça é praticada contra a vontade, pois se obedecessem aos seus desejos todos tenderiam para a injustiça. Por último, dizem que o injusto leva uma vida melhor que o justo, pois este quer ser justo e não aparecê-lo , sendo que o injusto quer aparecer justo justamente para ter todas as honrarias que o justo merece. “Pois o supra-sumo da injustiça é parecer justo sem o ser.” O justo, ao contrário, por sê-lo e não aparecê-lo, sofre todas as injúrias, castigos, maldições que deveriam caber ao injusto. Ou seja, Platão já enxergava o problema da “aparência” que hoje, parece-me, foi hiperbolizado.
            Essa querela entre a justiça e a injustiça fica restrito ao campo prático nesse segundo livro, já que no primeiro a justiça foi definida e aceita como aquela que possui em si a reflexão, ou seja, é a responsável por guiar o homem. Pelo menos em teoria, pois Glauco e Adimanto, irmãos de Platão e seus interlocutores, querem mostrar que na prática muitos acham que a injustiça é melhor que a justiça.
            Sócrates, para contrapor, começa a desenvolver o conceito de justiça ao criar uma cidade, pois será mais fácil entendê-la no macro do que no micro. Primeiro entender a justiça no macro para depois ir ao micro. Antes disso, Sócrates desenha o que seria a cidade, como cresce conforme a necessidade de alimentação, de saúde, de divertimento, de vestimenta, de segurança. Conforme a cidade vai crescendo, será necessário mais terra e animais e, por consequência, de mais homens. Logo, o espaço que era suficiente não o é mais. Se as cidades vão crescendo nesse ritmo, logo faltará terra para todos e será natural que briguem por elas. Fica claro, aqui, que a guerra nasce das necessidades ou, indo além, de suas manutenções. Por isso para uma cidade preparada, Platão nos diz que ela precisará também de guardiões. Os guardiões são valentes e fortes, sabem ser duros com o inimigo e amigável com os amigos, com os concidadãos. Para esses guardiões, por serem brandos com uns e duros com outros, serão indispensáveis terem em si um conhecimento para justificar tal atitude e, indo mais longe, é preciso buscar sempre um conhecimento que dê base, a fortaleça, ou seja, é preciso atualizá-lo. Os guardiões, de certa maneira, são aqueles que aproximam do filósofo justamente por esse conhecimento. Mas será preciso distingui-lo ao que cabem aos guardiões e aos que cabem aos filósofos.
            A educação na cidade, Platão nos diz que ela deve ser dividida em duas: a música e a ginástica. Primeiro devemos ensinar a música, pois nesta pressupomos que há literatura e na literatura existe a divisão entre a verdadeira e a falsa. Nas falsas caberiam as fábulas por não conterem fatos verdadeiros, embora suas histórias possam conter verdades morais. Nessa literatura falsa devemos censurar, principalmente, as histórias mentirosas e sem nobrezas, muitas vezes diferentes das fábulas que são mentirosas, mas há uma verdade moral ali, ou seja, possui, de alguma maneira, certa nobreza. Quais histórias sem nobrezas são essas? São principalmente as histórias dos deuses, que são bons e justos, sendo retratados de forma totalmente contrários. São retratados como violentos, ambiciosos, vingativos, ou seja, no fundo Platão critica certa humanização dos deuses construída, sobretudo, por Homero e Hesíodo.
            Deus, para Platão, é a ideia que cabe a justiça, o belo, o bem. Ao contrário para os poetas que colocam características humanas nos deuses. O Deus para Platão só sai coisas boas, belas, justas e vantajosas. É o ideal a ser perseguido e é o ideal que faria os homens adquirirem uma educação perfeita. A poesia verdadeira deve refletir, comunicar, sentir esse deus.

O Mito do anel de Giges

            Esse mito conta a história de um pastor honesto e bom de ovelhas onde em suas terras ocorreu uma grande tempestade e um grande terremoto que abriram uma fenda na Teerã. O pastor, descobrindo essa fenda, desce-a e descobre um grande homem que possuía somente um anel. O pastor, não resistindo, pegar o anel e começa a usar. Com o tempo descobre que se virar o anel para dentro fica invisível, se virar para fora torna-se a ficar visível. Com um poder (da invisibilidade) parecido com os deuses, o pastor vai para a casa do soberano das terras para seduzir sua mulher (e consegue) e matá-lo, assim tornando-se o novo soberano.

Esse mito nos ensina que mesmo um homem bom pode ser corrompido pelo poder, ou seja, vai se deixar levar pelo instinto. É um mito contado pelos interlocutores de Sócrates para afirmarem que tanto o justo como o injusto seguirão pelo mesmo caminho – da injustiça – se tiverem a oportunidade. 

domingo, 14 de dezembro de 2014

Carta sobre a felicidade - Epicuro

Cartas sobre a felicidade

Nesta carta Epicuro já começa dizendo: “Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito”. Essa saúde do espírito é a felicidade. Um dos caminhos que levam a saúde de espírito é a filosofia. É a filosofia que cuida da alma, do espírito. Portanto, se a felicidade não tem data exata ou momento exato para brotar, pode ocorrer na juventude ou na velhice, a ação de filosofar também não tem data certa para surgir. Em todas as épocas de nossa vida estamos sempre à procura da felicidade.
A saúde do espírito nos leva a ter duas percepções: quando velho rejuvenescemos pela lembrança de uma vida boa – só se alcança a saúde do espírito aquele que teve uma vida boa –; quando jovem não tememos a velhice ou a morte, pois quem tem ou terá, buscando incansavelmente, uma saúde do espírito saberá que a sua vida será repleta de sabedoria e boas ações.
Para uma vida feliz é necessário, em primeiro lugar, estar de braços abertos para o costume. Os deuses, considerados por todos imortais e bem aventurados, não podem ser associados a nada que seja incompatível a sua imortalidade ou inadequado a sua bem aventurança. O ímpio, para Epicuro, não é aquele que não crer nos deuses que a maioria crer, mas aquele que, junto de uma maioria, atribui aos deuses atrocidades que não convêm com as suas naturezas bondosas, bem aventuradas. Por isso é errônea a concepção de que os deuses causam os maiores benefícios àqueles que foram bons, e os maiores malefícios àqueles que foram maus. Para os deuses, assim como para Epicuro, o bem e o mal residem nas sensações. Com a morte, finda-as. Com essa consciência de que depois da morte não há nada a temer, podemos viver sem nenhum medo e com uma maior possibilidade de gozá-la. São os ímpios que inventaram o temor da morte e o castigo eterno. A existência da morte significa, justamente, sua não-existência, pois para quem está vivo a morte não existe e para quem já morreu, quem deixou de existir não foi a morte, foi aqueles tocados por ela. Ou seja, quem está vivo não deve temê-la e quem já está morto já não é afetada por ela. A morte é um instante, um suspiro imensurável.
Dizem que os jovens têm que aproveitar a vida e os velhos têm que se preparar para a morte. Mas quem age ou aconselha tal coisa é um tolo, pois para a felicidade humana não há tempo e nem espaços exatos. São os homens que a constrói.
A vida humana é um cruzamento de inúmeros desejos. Existem dois tipos de desejos: os naturais e os inúteis. Entre os naturais há aqueles que são necessários e há aqueles que são simplesmente naturais. Entre os naturais há aqueles que são fundamentais para a felicidade, outros para o bem-estar do corpo e ainda há aqueles que são próprios da vida. Se conhecemos esses desejos podemos escolher o caminho para a serenidade do corpo e da alma. Essa serenidade pode trazer a felicidade (objetivo final) nos possibilitando escapar de toda dor e medo. A medicina e a filosofia nos ajudariam a entender esses desejos e a nos guiar para a felicidade.
A felicidade é o prazer do corpo e da alma. Por isso Epicuro nos diz que é a busca desse prazer que movimenta a vida humana. Mas há prazeres e prazeres. Não devemos escolher os inúteis que nada trariam de bom, mas somente aqueles necessários para a felicidade, para o bem-estar do corpo, da vida. Porém, nem todos os prazeres são preferíveis perante o sofrimento, há aqueles prazeres que podem nos causar efeitos desagradáveis e devem ser evitados. É preferível passar um longo tempo no sofrimento do que cair nas armadilhas desses prazeres, concomitantemente, sempre buscando um prazer maior e necessário para alcançamos a felicidade. Ou seja, não devemos nos entregar a qualquer prazer com a esperança de acabar com algum sofrimento. Epicuro nos diz para resignamos desses prazeres inúteis e menores. Toda dor é um mal, mas não devem ser todas evitadas. Na dor podemos aprender um caminho para o bem, para o prazer que nos leva a felicidade. “Há ocasião em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem”.
O prazer para Epicuro não se refere aos prazeres intemperantes – a bebida, por exemplo – ou àqueles que consistem no sentido, mas se refere à ausência de sofrimentos corporais e da alma. O prazer aqui é negativo, não afirmativo. Afirmo a felicidade na ausência da dor. Há nessa felicidade, nessa ausência da dor, algo de racional: conseguiremos nos isentar da dor ao investigamos os motivos que levaram a concretizá-la. Essa investigação não é de argumentos, mas da vida, e para isso será preciso sensibilidade e prudência. A prudência, para Epicuro, é o bem suprermo, pois dela derivamos todas as virtudes, inclusive a própria filosofia. Mas só poderá ser prudente se existir resquícios de uma felicidades, pois a prudência, a beleza e a justiça só podem existir na felicidade e sem esta é impossível que as três virtudes existam.
Epicuro nos diz ainda para levamos uma vida simples e de auto-suficiência. Pois, deste modo, iremos nos contentar pelo o que possuímos, mesmo que seja pouco, e não sofreremos pelo o que nos falta. A vida simples, por outro lado, nos habitua a viver nas adversidades – não sofreremos tanto ao contrários daqueles que estão acostumados a viver na abundância e a perdem –, e nos ensina a aproveitar melhor os tempos de abundâncias.

Para terminar uma citação provocadora: “Mas vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos naturalistas: o mito pelo mesmos nos oferece a esperança do perdão dos deuses através das homenagens que lhes prestamos, ao passo que o destino é uma necessidade inexorável”.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Lógica do Sentido - Terceira Série de Paradoxos: Da proposição

A linguagem está intrinsecamente ligada aos acontecimentos, ou seja, é minimamente possível que qualquer acontecimento seja enunciado. Porém, qual dessas ligações convém aos efeitos de superfície ou ao próprio acontecimento?
A proposição é essa ligação da linguagem com os acontecimentos.
Muitos autores designaram três tipos de relações distintas numa proposição: A primeira é a designação ou indicação. Essas palavras que designam fazem justamente dentro de um estado de coisas. Todo estado de coisas é individual, faz parte de um jogo (quebra-cabeça), por isso toda palavra que designa não pode ser nunca universal, mas sim particular, pois pega, dentro desse estado de coisas, imagens para serem associadas às palavras como, por exemplo: “isto, aquilo, ele, aqui, acolá, ontem, agora, etc. Nesses casos, logicamente, as designações tem como critério o elemento a veracidade e a falsidade. Verdadeiro quando a designação é verdadeiramente preenchida, ou seja, as palavras indicadoras comportaram as imagens escolhidas em um estado de coisas; é falso quando as designações não são preenchidas, ou seja, as palavras não comportam as imagens escolhidas ou as palavras não poderiam expressá-las. O nome próprio também é uma designação, mas especial, pois é aquele que produz materialmente uma singularidade.  
A segunda relação é a chamada de manifestação, e assim o é ao apresentar-se como enunciadora dos desejos e das crenças. Ao fazer isso torna a proposição mais pessoal, possibilitando, assim, que designações sejam realizadas. Mas há uma diferença entre desejos e crenças. A origem dos desejos é uma causalidade interna de uma imagem para determinar um objeto ou de um estado de coisas, a origem das crenças é uma causalidade externa na medida em que espera a existência desse objeto ou do estado de coisas para ser justificada, enquanto é intrínseco que justifica o desejo.
A terceira relação é a significação. A significação possibilita uma ordem onde premissas e conclusões fazem parte do jogo. Um jogo conceitual onde cada proposição dessa ordem não intervém, sendo apenas elementos como premissas, conclusão ou premissa-conclusão variantes num determinado tempo e espaço. Há dentro da significação os significantes: “implica” e “logo”. A “Implicação” é a definição da relação premissas e conclusões; o “logo” é a conclusão que tira por si mesma através dessa implicação. Toda significação é uma demonstração no sentido de que uma proposição , em uma ligação indireta, pode ser a conclusão de outras preposições ou delas ser premissas. Aqui a demonstração não é somente lógica, mas moral, como, por exemplo, a promessa onde a efetuação é o seu comprimento. Porém, ao não ser totalmente lógico, não será compreendida como uma verdade, mas como condição de verdade, ou seja, depende de um conjunto de fatores para que sejam verdadeiras. Logo, também é esse conjunto de fatores que designam a falsidade de uma proposição. Aqui não há oposição entre o verdadeiro e o falso, mas dos dois com o absurdo. O verdadeiro e o falso fazem parte de um mesmo jogo, o absurdo não.
A Manifestação vem primeiro  que a designação por ser mais pessoal, porém, em relação a significação, quem vem primeiro? A manifestação ou a significação? Se o viés for a fala, então é a manifestação, pois será sempre o Eu que virá primeiro, é o Eu que designa e demonstra; mas se for no campo da língua será a significação , pois a proposição será manifestada primeiramente nas premissas e conclusões antes de chegar ao Eu. De tal forma que é através da relação das palavras com os conceitos que pode existir a variedade do “é isto, não é isto”, pois os conceitos são variáveis. Se não fosse essa relação das palavras com os conceitos não seria possível que os desejos enunciassem algo além das necessidades corporais; não seriam possíveis as crenças formulassem algo além do campo das opiniões, não formulando, assim, inferências conceituais. Mas há um problema nisso tudo. Quando colocamos a significação à frente de um Eu, por exemplo, podemos cair no erro de deslocar o “logo” das suas implicações, ou seja, afirmamos que a conclusão é tal por si mesma. Porém para chegamos nesse ponto será preciso percorrer dois caminhos: 1) as premissas serem totalmente verdadeiras.2) mesmo que as premissas A e B sejam verdadeiras não podemos supor Z, mas sim C, que por sua vez, se A, B e C forem verdadeiras suporemos D, nunca Z. Consequentemente essa equação nunca sairá das implicações, o que a levará ao infinito (não sair nunca do campo dedutivo).
O paradoxo da proposição se constitui aqui: concomitantemente afirma-se uma conclusão por si mesma, deslocando-o de suas implicações; porém as conclusões, por sua vez, não será nunca homogênea, ou seja, será premissa de outra conclusão.
Para sair desse paradoxo talvez seja preciso criar outra dimensão – do sentido – que se encaixa nas outras três – designação, manifestação e significação. Mas isso é possível? Primeiramente, nos parece que na designação não é impossível, pois esta trabalha com o que é verdadeiro e falso. Mas o sentido não se faz naquilo que torna uma proposição verdadeira ou falsa, nem onde estas efetuam-se; do outro lado a designação não suportaria uma proposição que fosse além  da correspondência entre as palavras e as coisas ou estado de coisas designados. Porém, é certo que toda designação tem um sentido. Mesmo sabendo que as designação possuem um certo sentido, ele não se faz nessa nova dimensão justamente por reconhecer que as coisas designadas só tem sentido em um contexto particular.  Já em relação à manifestação é mais fácil identificar o sentido, pois os designantes só possuem sentido em função do Eu.  Este se baseia nos desejos e crenças; e estes, como vimos, estão aludidos nas implicações, ou seja, dependem, por exemplo, de um conceito de Mundo e de Deus para poder se manifestar como Eu.  Para concretizar o paradoxo, definimos a significação como condição de verdade, que possui a seguinte conseqüência: a forma da possibilidade está contida na própria proposição. O fundado “vive” independente do fundamento, o condicionado “vive” independente da condição. Oras, pois isso ocorre quando a condição de verdade varia em si mesma na proposição, mostrando sua cara, de diversas maneiras, num determinado espaço dependendo de um contexto. Nessa balança onde a verdade encontra-se em um defeito, em um mar tempestuoso sem bóia, onde as ondas a levam de cá para lá e de lá para cá, onde as ondas a leva de condicionante à condição para depois conceber a condição como possibilidade do condicionado; para fugir desse enjoativo balanço será preciso fugir da forma de conceber a verdade como significação (é ela que nos faz cair nesse mar de contextos longe de uma ilha que seria o refúgio dessas moléculas do contextualismo) e sim como sentido.
O sentido é o expresso da proposição, ou seja, é a expressão e é completamente indiferente em relação à proposição e seus termos como é em relação aos objetos ou estados de coisas que designa – do simples ao universal.  O sentido, assim o é, pois consegue ultrapassar o visível sem cair nas Ideias, justamente para produzir uma experiência alongada, desdobrada. Ou seja, o sentido nos direciona para além do visível, pois não depende deste, mas o situa como uma “Unidade ideal correlato intencional do ato de percepção”. Da determinação segundo um ato visível e essa determinação é o que o faz ultrapassá-lo. O sentido nos leva direto para a superfície.
O sentido e o expresso não existem sem a proposição e a expressão, porém não são as mesmas coisas. Não existem pois são pontes entre uma proposição e um estado de coisas. O sentido não sobrevive sem um estado de coisas. O sentido é o verbo. Ao dizer que uma árvore verdeja, estamos dizendo de um atributo; se dissemos que a árvore é verde, estamos dizendo de uma característica. O atributo não existe sem a proposição.

O sentido, por fim, existe na relação proposição e estados de coisas. É objetivo quando busca uma unidade ideal (sem cair nas idéias) e, por isso, ultrapassa o que é somente visível. Assim, desdobra a experiência. A lógica do sentido é uma lógica da arte. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A Metafísica: Livro I - 2ª parte: Quais são as causas buscadas pela sapiência e as características gerais da sapiência

Entendendo a sapiência como a metafísica, quais são as suas causas e seus princípios? O conhecimento dessa sapiência não é comum a todo homem, por isso difere do conhecimento sensível, mas é um conhecimento que tem em si todas as ciências. Não é um conhecimento do particular, mas do universal. Pois busca as causas de cada ciência e não uma aplicação particular. Para Aristóteles há ciências e ciências. Umas requerem maior sapiência do que outras. Aquelas são escolhidas, segundo as palavras do autor, por si mesmas e unicamente pelo saber; estas são escolhidas por aquilo que delas deriva.
Essas ciências que possuem um maior grau de sapiência são as mais difíceis por estarem distante das sensações, e são as mais exatas, mais verdadeiras por estarem mais próximos dos primeiros princípios. Outra característica desse nivelamento entre as ciências é: os que conseguem chegar mais na profundeza dos universais, ou seja, os que possuem menos princípios são superiores àqueles que possuem mais princípios. Pois estes necessitam de princípios ulteriores de si mesmos, ou seja, buscam princípios de outras ciências; já aquelas são superiores, pois, ao precisarem de menos princípios, estarão mais próximos do primeiro universal.

Por isso, logicamente, para Aristóteles, a ciência que mais se aproxima desse primeiro princípio, que é a metafísica, está mais adapta a ensinar. A metafísica, chamada de sapiência por Aristóteles, por está mais próximo do grande universal, é também o que tem um maior grau de cognoscíveis e que possui, por excelência, um fim em si mesmo. Tanto para Aristóteles, quanto para Platão, quanto mais conhecimento mais próximo do bem e a metafísica, por si mesma, é aquela que pode chegar ao sumo bem. O sumo bem é a características de Deus e este o possui em altíssimo grau, além disso, o sumo bem é a busca da metafísica, pois aquele não se separa deste na medida em que o primeiro princípio é a causa do sumo bem. Logo, a metafísica é uma ciência divina e está na base de todas as outras ciências.

Lógica do Sentido - Segunda Série de Paradoxos: Dos efeitos de superfícies

        Para os Estóicos há duas espécies de coisas: primeiramente os corpos com suas tensões, suas qualidades físicas, suas relações, suas ações e paixões e os estados de coisas correspondentes. E num corpo como em outros há uma unidade que os interligam e os desenvolvem segundo um determinado presente – unidade esta chamada de fogo primordial que pode ser definido como efeitos, acontecimentos que possibilitam as causas entre os corpos. Se for no presente que vivemos ao ocupamos um determinado espaço, se é na natureza que nos desenvolvemos, não há causas e efeitos nos corpos, somos todos causas de uns e de outros. Viver o presente significa medir a ação do agente e a paixão do paciente. A outra espécie de coisas, para os estóicos, são os efeitos incorporais. Estes podem ser atributos lógicos ou dialéticos e não qualidades ou propriedades física, são acontecimentos e não estados de coisas ou coisas, não são adjetivos ou substantivos, são verbos, são resultados de paixões e ações, não agentes e pacientes, não são presentes vivos, mas infinitos, pois são devires que divide o infinito em passado e futuro. Esses efeitos são acontecimentos (destes se criam uma estado de coisas) e são as provas que o passado e o futuro sempre dialogam-se para fazer o presente e o corpo. Oras, são esses efeitos que misturam os corpos e escolhe uma máscara, entre infinitas, para o presente. Se os corpos são causas de uns e de outros, são os efeitos que proporcionam essas causas como se guiassem, no subterrâneo, as causas. O passado, o futuro e os efeitos produzem o presente, por isso mesmo este é momentâneo.
            Os Estóicos desmembraram a relação casual (causas e efeitos) em dois grupos: as causas as causas (o destino); e aos efeitos e efeitos (o enlaçamento). Esse desmembramento ocorre na distinção de dois caminhos: os efeitos não são causas de outros efeitos (Deleuze diz no máximo que são “quase-causas”), pois os efeitos dependem de um contexto (unidade relativa ou uma misturas dos corpos) tanto quanto de suas causas reais. Ao fugir dessa relação infinita: causa-efeito (causa) – efeito (causa) – etc... salvaguarda a liberdade, justamente quando coloca na fórmula o contexto evitando, assim,  uma predeterminação ou um primeiro princípio, por exemplo. Por isso os Estóicos podem distinguir conceitualmente destino e necessidade. Essa distinção não será uma ruptura, caminharão juntas. Ao colocar o contexto nessa equação, sendo um fator inderteminante, produzirá um devir-louco, um devir ilimitado.

            Por último, o que é o verbo? É aquele que traduz esses acontecimentos incorporais, pois estes não atributos do ser, ou seja, uma ação Sendo um verbo é a linguagem que o controla, consequentemente, coloca limite nesses acontecimentos, porém é ela também que vai além desse limite ao prever o que acontecerá quando estamos situados no limite. A linguagem e o devir coexistem, pois a linguagem consegue compreender e ir além do limite. A superfície como limite.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O "Milagre" do Brasil

Maria da Concessão era negra das ancas enormes, do cabelo crespo, do sorriso inocente, dos olhos tristes. Desde pequena não sabia escrever seu nome, mas sabia muito bem lavar roupa dos outros, dos brancos. Era a melhor negra, linda e trabalhadeira, e todos os senhores a desejavam para lavar os seus lençóis de água e suor.

            Da Maria da Concessão pouca gente sabia: tinha um desejo incomensurável de conhecer sobre tudo: sobre o mundo, a vida, a si mesma. O que já conhecia sobre sua antiga terra, sobre sua ancestralidade, não tinha valia nenhuma, era o “menos-valia” para aqueles que dominavam o mundo. Maria da Concessão queria ser alguém, sua alma já estava cansada da subjugação. Aliado com seu prazer em conhecer, todo dia de noite nossa Maria estudava ciências, matemática e filosofia. Maria queria ser alguém. Depois de muito esforço, a mão calejada delonga a costumar com a suavidade, com a sensibilidade dos livros, Mariazinha foi se afeiçoando com aquelas letras, com aquelas contas que antes não diziam nada, agora são as portas do paraíso. Afeiçoando, embranqueceu. Já não era negra, agora era morena. Discutia com os doutos Platão e Newton. A pele foi embranquecendo à medida que conhecia sobre o mundo. Já não eram os senhores que a convidavam para lavar suas roupas, eram as senhoras que a convidavam para tomar chá. Maria estava feliz, agora era pessoa. Mas uma coisa ainda a incomodava: sonhava sempre com um pássaro negro que voava e voava em terras distantes e cantava a melodia do coração, não era um pássaro livre, mas era um pássaro feliz.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A Metafísica: Livro I - 1ª parte: A sapiência é conhecimento de causas

Todo homem é adapto ao saber mesmo que esse saber seja só pela via da sensação. Entre as sensações a mais privilegiada entre os homens é a visão, pois estas nos proporcionam a ação e a possibilidade de uma maior clareza entre os objetos, ou seja, conhecimento. Todos os animais possuem sensações, mesmo que alguns falte um ou outro. Mas o ser humano vai além das sensações, possuindo a arte e o raciocínio. Por essa arte podemos entender qualquer “produto” humano. Os homens, como alguns animais, possuem a capacidade da memória, mais só os homens conseguem tirar da memória uma experiência que vai além das sensações. Isso acontece quando, a partir da memória, o raciocínio, o intelecto, organiza os dados da memória, produzindo uma experiência estritamente humana. Doravante dessa experiência o homem foi capaz de produzir ciências e artes. Essa experiência é fundamental quando se trata da vida particular de cada homem. Tanto as artes como as ciências tendem ao universal, ou seja, depois que são estabelecidas como tais, apontam sempre para o geral, para o todo, para o Homem. É essa experiência que traz sua própria criação para o seio da terra, é ela que possibilita, por exemplo, que a medicina, com suas formulações gerais, trate de cada humano em sua especialidade. Temos que prestar atenção ao movimento: a experiência humana, que é particular, cria as artes e as ciências que são universais, concomitantemente, é a mesma que traz de volta aos humanos, agora capacitada para serem realmente uma condição humana por possuírem a possibilidade de servir a todos.
            Mesmo que seja a experiência a responsável pela regulamentação desse movimento, são as artes e as ciências que possuem os saberes. Há aqui a dicotomia entre os sábios – que possuem os saberes – e os trabalhadores – que possuem a experiência. Uma anedota: os sábios também possuem certa experiência mesmo que não seja uma experiência que o trabalhador manual terá. Mas Aristóteles, ao reconhecer o valor dessa experiência, ao comparar os homens que precisam usar de uma certa força com os homens que possuem os saberes, desvaloriza aqueles. A justificativa é: esses homens não sabem como/o porquê das coisas que eles aprenderam darem certo, ou seja, não possuem a teoria. Nas palavras de Aristóteles: não possuem os saberes conceitual e nem os conhecimento das causas. E por isso só podem ensinar através da experiência – Aristóteles nos diz que isso é impossível, mas não concordo –, enquanto os homens teóricos ensinam conceitualmente.

            Definição de sapiência para Aristóteles: é a pesquisa das causas primeira e dos princípios, ou seja, a metafísica. Os homens mais sábios serão aqueles que dominar a metafísica.